Estou há algum tempo sentada na frente do laptop tentando começar, mas até o título está difícil.
Como contar que saí uma segunda feira de manhã para a depilação, para comprar o presente que faltava ( o do marido, lógico...) , que cheguei em casa tranquila e depois de mais ou menos 1 h, dava entrada na urgencia de um hospital com uma trombose de toda a perna esquerda, desde a coxa até...?
Viajaria no dia seguinte para Estrela Dalva, para o Natal com a mamãe e o Jayminho, junto com as crianças e voltaria dia 30 para a virada de Ano junto com o Mário, que dessa vez não poderia ir conosco. Sempre tenho folga uns dias antes e esse ano sei lá porque, mas Deus com certeza sabe, sairia apenas no dia 23 de dezembro. Foi a sorte. Tivesse acontecido na estrada ou em Estrela, estaria muito ferrada.
Quando em casa, vi a minha perna dobrando de tamanho e mudando de cor, sabia o que estava acontecendo e sabia que todos os planos que tínhamos feito para as férias tinham ido por terra. Do carro até o hospital, era tanto desconforto que achei que pudesse estar morrendo e mudei o diagnóstico algumas vezes em pouco mais de 2,5 km. Passei de trombose venosa profunda para embolia pulmonar, mas cheguei a cogitar outras coisas mais mortais ou sequelantes de tão mal que me sentia. Mas enfim, era trombose venosa profunda, de ilíaca, femural, e o do que mais houvesse para trazer meu sangue venoso até a veia cava prá depois ele poder seguir o rumo dele. Tudo entupido! O tratamento, depois de confirmado o diagnóstico clínico com um singelo exame de duplex scan, foi iniciado já no box da urgencia, de onde eu não teria saído até o dia seguinte se não tivesse havido um outro personagem: o dinheiro.
Sim, porque os quartos destinados ao meu convênio estavam lotados e eu era a quinta da fila e a previsão era que eu ficasse até a tarde do outro dia num box da urgencia. Mas como nos dispusemos a pagar a diferença da diária do convênio, logo subi para o apartamento. Que país é esse????Mas isso é conversa para outra hora.
Dormi num hospital pela primeira vez numa situação adversa, porque dar plantão e parir não são nada perto de ser paciente de verdade. Acordei com o médico vendo a minha perna e dizendo que eu teria 2 opções: uma tentativa de revascularizar colocando um cateter que iria da veia atrás do joelho até a veia cava, colocando remédio direto onde estava a obstrução; ou o tratamento clínico, em que eu teria mais de 50% de chances de ficar com sequelas graves. Optei pela primeira depois de pensar e pensar e sofrer. Passaria 2 dias no CTI por causa desse procedimento e isso significaria o Natal sozinha.
E o medo?? E a angústia?? E aquela coisa de mãe que quer ficar perto dos filhos?? E as malas deles que nem cheguei a arrumar?? E a frustração??
A frustração multiplicada por 3,mas com a minha eu me arranjaria depois...Estávamos com tudo marcado para realizar um sonho. Iríamos para Orlando dia 21 de janeiro. Passagens, hotel, ingressos, carro, tudo reservado. Restaurantes com direito a personagens... O Harry Potter... Era o sonho deles? Era sim, mas era o meu também. Sempre quis muito abraçar O ratinho e estava contando os dias para esse dia chegar e via nos olhos dos meus filhos aquele brilho de felicidade cada vez que tinha uma novidade.
Passado o susto inicial e voltando a usar a cabeça sabia que tinha sido o melhor momento (se é que tem melhor momento...) para ter uma coisa desse tipo e gravidade. Encarei o procedimento e encararia o CTI. Mas ao acordar e fazer a indefectível perguntinha "E aí, doutor, deu certo?" , ganhei como resposta um sonoro "Não". Peraí?? Como assim, não?? Não era bem isso que esperava ouvir e foi ficando pior porque ele me disse que não conseguiu chegar com o cateter até onde deveria porque tinha alguma coisa na minha pelve comprimindo a veia. Ah, pronto!! Iria descobrir que tinha feito uma trombose na boca do Natal e que além de tudo estava com câncer. Ah, mas xinguei, viu!!! Que droooga!!! Pensei logo que Deus é gente boa prá cacete e não ia arrumar uma presepada dessas comigo, que meus filhos ainda precisam de mim e tudo que todo mundo pensa, mas deu medo.Tinha um capetinha com a voz do Caetano cantando a música do Chico de vez em quando : "Deus é um cara gozador adora brincadeira..." e mesmo mandando que ele calasse a boca, ele insistia. Mas uma tomografia de abdome 2 dias depois, no dia do aniversário do Miguel, mandou essa possibilidade embora.
Deus não falha. Nunca. Jamais. E Ele sabe de absolutamente todas as coisas e todas as horas.
Novo procedimento e agora sucesso. 2 dias no CTI com medicação e depois quarto.
O CTI acordada é um caso a parte. Já avisei que é o que desejo às inimigas, com direito à coleta de gasometria arterial as 4 da madruga. É... Brincadeira!! Ninguém, mas ninguém mesmo merece.
No quarto tive a companhia do Mário, que esteve do meu lado desde a urgencia até a alta. Que brigou por mim. Que me deixou chorar quando eu tive vontade. Que falou comigo como se eu tivesse 5 anos muitas vezes.Que me trouxe de volta à razão, como muitas vezes ao longo de todos esses anos, Que me levou sorvete no CTI. Que fez comida prá mim. Que conseguiu dormir num lugar onde cabe meio Mário (sem sacanagem...) .Que me trouxe prá casa hoje. E que vai me vigiar de agora em diante.
Tenho muitas coisas a falar sobre todas as vivências desses dias, mas não mais hoje.
Hoje quero somente agradecer por muitas coisas : por ter a chance de recuperar a saúde; por ter uma família tão bacana que fez e está fazendo tudo o que pode para que eu não me preocupe tanto; pelos amigos e conhecidos que se fizeram presentes das mais diferentes formas; pelas orações. Agradecer a Deus mais uma vez por não me deixar na mão... Obrigada, Pai!!
Estou de volta!
Feliz 2015!
Beijos,
Lela.
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Quando eu falo com Deus?
Eu falei tão doce prá você, mas sumiu. Não importa, importa que você já está em casa e sabendo o que agora vai liderar sua vida de uma forma diferente. O que vc escreveu é a pura realidade de quem está em apuros. A descoberta de nosso Deus é fantástica. Use e abuse dele. Nós precisamos! Beijos!
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