quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Aperto no Coração

Toda vez que leio, ou vejo algo sobre a II Guerra Mundial e o Holocausto fico com o coração apertado. Mesmo antes de saber que a família do meu avô paterno era judia e que ele rompeu com ela para casar com minha avó, numa época em que isso quase nunca acontecia.

Mamãe contava que um dia me pegou chorando na frente da TV aos 5 anos. Estava vendo um especial sobre o Holocausto e desatei a chorar. Claro que isso não era coisa de uma menina pequena ver, mas eu vi. Aqueles trens entupidos de pessoas magras, com olhos esbugalhados de medo e fome; uniformes, cães, armas.
Mamãe tentou me consolar da forma mais simples possível, dizendo que aquelas coisas não aconteceriam mais; que o mundo havia mudado desde então; que depois da Guerra foi criada a ONU e que ela se encarregava de "tomar conta" para que os países não brigassem mais. Foi surpreendida por uma pergunta inocente: Por que então estava acontecendo a guerrilha na Nicarágua em que tantas pessoas estavam morrendo? Acho que depois disso ela deixou que eu chorasse, porque não havia resposta à pergunta que fiz.

Mas voltando ao programa de TV. Vi sem entender, mas aquilo me fez muito mal, porque percebi logo que não era bom. Um desconforto muito grande, uma angústia são os sentimentos que me acompanham quando o assunto é esse.


Não consegui terminar de ver "A Escolha de Sofia". Não consigo imaginar ter que escolher entre um dos meus filhos; não consigo imaginar que tenha existido alguém tão cruel a ponto de se divertir propondo tal questão a uma mãe.
Levei mais de 3 anos para ler "O Diário de Anne Frank". Começava e parava quase sempre no mesmo ponto. Terminei na marra e bloqueei. Sei que li, mas não lembro de uma linha do livro.
"A Menina Que Roubava Livros" li somente ano passado, depois do filme ser lançado, mas só assisti depois de terminada a leitura. Como sempre, o livro é infinitas vezes superior. Mas o sentimento me acompanha. Aperto, estranheza, desassossego.
Ao assistir "O Menino do Pijama Listrado" fiquei enjoada, entalada. Queria chorar mas não consegui. Aquele final...
Isso para falar dos filmes lights, quase sessão da tarde. Os mais pesados não consigo mesmo.
Em "A Vida é Bela" chorei do início ao fim já imaginando o desfecho. Foi um filme muito criticado na época de seu lançamento, mas gostei: achei delicado, amoroso; incrível como naquele ambiente horrendo o pai conseguiu esconder do filho o que realmente se passava.
Terminei de ler "Depois de Auschwitz" há algumas semanas e nele a autora, Eva Schloss, rememora os anos passados no campo de concentração com sua mãe. Ambas sobreviveram, mas perderam o pai (marido) e irmão (filho). A família saiu da Áustria, foi para a Bélgica, depois para a Holanda, onde viveu escondida até ser capturada no dia do aniversário de 15 anos de Eva. E novamente aquele sentimento ruim...


Os documentários sobre o Holocausto multiplicaram por aqui  na época em que foi descoberta em São Paulo a ossada de Josef Mengele. Este ficou conhecido como "Anjo da Morte"; era médico e atuou nos campos de Auschwitz- Birkenau, onde as maiores atrocidades contra os povos judeu, cigano, afrodescendentes e homossexuais foram cometidas. Fez experiências abomináveis, como injetar tinta azul nos olhos de crianças, colocou pessoas em tanques de água gelada para ver quanto tempo elas aguentariam e por aí vai. Não vou discorrer sobre isso, tenho verdadeiro nojo dessa criatura.

Hitler e o Terceiro Reich conseguiram exterminar mais de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial e sim, o Holocausto foi o maior genocídio do século XX . Antes da Guerra efetivamente começar, os direitos dos judeus nos territórios anexados pela Alemanha já vinham sendo retirados. Foi um suplício sem precedentes para o povo judeu e os outros "não arianos". A  morte chegava pela câmara de gás, por exaustão, fome, frio, doenças ... Os sobreviventes ao serem libertados não tinham às vezes pra onde voltar, já que tinham sido privados de tudo; ficaram reduzidos a um número tatuado no antebraço. Mas perseveraram, refizeram a vida e são provas vivas do que a loucura do Homem é capaz.

Ainda existem pessoas que contestam a existência do Holocausto. O que dizer a elas?


Nem sei porque estou falando sobre isso hoje. Sei que esse assunto me aflige.
Não sou judia, sou neta de um judeu que terminou a vida fora da sua religião. Mas sou gente, como judeus, ciganos, negros, europeus, asiáticos. Acredito firmemente que cada pessoa tem o direito de professar sua fé, seja ela qual for; de comer carne ou não; de guardar os sábados; de usar quipá; de usar véus se assim desejarem; de venerar vacas como animais sagrados, desde que haja respeito.

Não gosto de pensar que pode haver um novo Holocausto; que já ocorreram novos extermínios em massa na Europa; que a África é um continente em que até outro dia negros e brancos não frequentavam as mesmas escolas e que ainda acontecem coisas por lá além da minha compreensão. Que ainda é travada uma Guerra Santa em nome de coisas que não estão escritas.
Que mulheres são desrespeitadas, tratadas como objeto, moeda de troca, escravizadas.
Que crianças ainda são queimadas vivas a troco de nada.


Não sou antropóloga, não sou socióloga, não viajei o mundo e nem li o bastante. Deve ter alguém pensando porque não falo da tragédia de Mariana, das crianças das carvoarias, do desmatamento da Amazônia. Também não sei, desculpem...
Só sei do que sinto; e o que sinto é muito.

Lela.

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