quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Irmãos

Fui agraciada com um irmão apenas. Mais novo que eu menos de dois anos.E meu apelido é creditado na conta dele.
Com uma diferença mínima dessas o natural seria que tivéssemos sido amigos desde sempre...Não fomos.
Passamos anos em disputas intermináveis sobre quem poderia escolher o programa de televisão ou no copo de quem tinha mais refrigerante, passando por quem era o mais estudioso, mais legal...
Sempre me perguntava porque ele voltava dormindo no colo do papai e eu voltava a pé dando a mão à mamãe; ou porque eu tinha pé chato e usava aquelas botas ridículas e ele não...
Chegamos às vias de fato várias vezes. Eu provocava demais e ele batia demais.
Uma das duas vezes que a mamãe desceu o tamanco foi por causa de uma briga nossa sem fim; ela perdeu o juízo outra vez por nossa causa e aí a louça foi quem sofreu.Mas quase sempre foi só castigo - de mãos dadas...
Claro que brincávamos juntos, tanto no prédio, como em Estrela, sozinhos ou com coleguinhas, mas tinha confusão quase sempre. Um não gostava da companhia do outro.
Como irmã mais velha sempre fui colocada, e me colocava,  como responsável por ele. Quando Jayminho foi para a minha escola,depois de acostumado numa escola pequena, chorava muito, fugia para  a minha fila querendo ficar comigo...Eu sempre devolvia na sala ou na mão da professora porque senão ele fugia e vinha chorando: "Lelaaaa, quero ficar com vocêêê!!!". Lógico que isso não durou. Loguinho ele foi prá turma dos terríveis...Custei a perceber,mas não dedurei.
Quando mudamos de colégio fomos para turnos diferentes no Metropolitano, porque ele foi tão bem na prova que foi colocado na turma de veteranos de manhã; eu fui para turma dos novatos mesmo. O fato é: só nos encontrávamos para brigar à noite ou no final de semana...Mas, bons tempos, era eu que buscava meu irmão na escola...Então tinha mais um tempinho para a celeuma.
Não fomos amigos de infância nem de adolescência.
Quando ele começou a estudar para as provas do Colégio Naval, imaginei logo a casa sem ele e ficava feliz.
O dia que o Jayminho foi embora foi um dos dias mais tristes da minha vida! E claro que não chorei; já disse que não choro!!!
A casa ficou tão vazia, tão grande, tão quieta...A mamãe ficou tão triste...Mas era um futuro promissor e que, falando claramente, possibilitou o meu futuro...
Nunca pensei que fosse sentir tanta saudade daquele pentelho de irmão. Aprendi a fazer o bolo que ele levava...Escrevia toda semana, mesmo sabendo que ele viria para casa. Mas ainda não tínhamos virado amigos. Eu era uma estranha prá ele e ele prá mim.
Sentia muita saudade e muita falta e, sim, muito ciúme! Dos novos amigos, das valsas, das meninas...Meu irmão voou e esqueceu de mim, me deixou prá trás...
Crescemos mais e  não viramos amigos. Eu era o ser desagradável e implicante, que fazia questão de discordar, debochar, mas mesmo assim escrevia toda semana.
Um dia, anos depois, ele me escreveu... Dentre todas as coisas escritas, a mais linda de todas , foi quando ele disse que somente ao reler minhas cartas, é que percebeu o quanto eu gostava dele e o quanto que sempre estive disponível para ele.
Passaram anos até que virássemos amigos (os melhores).
Sou irmã- madrinha - bicomadre.
Sou o ouvido sempre que ele precisar. Posso ser ombro. Posso contar com ele e ele sabe que pode contar comigo. Se algum dia resolver fugir da fila e vier chorando e dizendo: "Leeelaaa,deixa eu ficar com você?..." eu vou deixar.
Continuo ciumenta, implicante e desconfiada...Se a roupa não estiver boa, vou dizer na lata...
E ele sabe, embora jamais vá admitir, que eu sempre tenho razão!!!
Mas ainda sinto falta dele...
Sorte de quem tem irmãos!!
Beijos,
Lela.

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2 comentários :

  1. Que lindo! Acho que todas as relações de irmãos começam assim! E ouvir: "entrega pra ela (tenho irmã), vc é mais velha, já entende...." Hoje, também, eu e Ana somos as melhores amigas! Sou madrinha dela de Crisma, casamento. Somos comadres (de mão dupla!). É o nosso Porto Seguro. Meu e do Luiz Felipe. Agora, da Alice também! Parabéns! Vc deposita de uma maneira muito gostosa suas palavras. Beijos, Lygia

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