Nessas férias tive a missão de, finalmente, começar a arrumar a Casa Azul. Acho que foi o maior momento desapego pelo qual já passei, mas não foi tão difícil como pensei que pudesse ser... Bom, pelo menos até aqui.
Muito papel, quinquilharia, terços partidos, santinhos quebrados, apostilas... Meias, pijamas, as tais coisinhas miúdas.
Lembranças dos pais, avós, dos filhos e dos netos. Quadrinhos com "Eu te amo, vovó" são vários. Cartões, cartas de despedida, fotos. Lenços. Lembranças de uma vida inteira ocupando uma casa de várias vidas.
Mas chegou a hora de mudar. Novos ares, novos donos, novas manias vão comandar essa casa e para isso vai ser necessária uma adaptação de todos. Vamos empregar o termo "Sob Nova Direção" bastante e aos poucos todos vão se acostumar com a ideia, inclusive meu irmão e eu.
Fui guiada por uns sentimentos: desocupar, arejar, desencalhar, rearrumar. Redecorar tudo que for possível no momento e de uma coisa tenho absoluta certeza, passado uns dias de trabalho: falta cor. É pastel. Acho que eu queria uma casa mexicana, de cores terrosas, fortes, daquelas que acordam todo mundo, mas por enquanto não vai ser possível. Então daqui há algum tempo vou apostar nos sofás reestofados e reformados e em mantas. Vai dar certo. Preciso só de tempo (e de dinheiro, evidente).
Mas nesses dias descobri não só coisas que foram da minha mãe. Um dos armários está lotado de gibis que são do Jayminho: X-Men, Demolidor, Visão, Homem Aranha... A criatura vai fazer um dinheirinho no Mercado Livre.
Achei meu caderno de redação, provas da época do colégio, minhas Fofoletes e as minhas sapatilhas. Minhas sapatilhas de ballet estavam guardadas há quase 30 anos com a mamãe. Estão um pouco desbotadas, mas a ponta está perfeita. Não resisti e calcei. Ana ficou eufórica; tenho a sensação que ela achava que não era verdade que eu pudesse ter um dia calçado sapatilhas. Subi na ponta e doeu. De verdade! Meu pé não aceitou aquele exercício inesperado, normal. Deu uma saudadinha gostosa.
Se o ballet não tivesse me ensinado nada de bom, o que definitivamente não é verdade, deixou lições valiosas, como andar ereta, sentar ereta e o que quer que aconteça, ficar ereta. A encolher a barriga e encaixar o bumbum...Ensinou a persistencia, a tentar muitas vezes, muitas e muitas.
O balé foi por anos, o que eu gostaria de ter feito na vida: dançar, voar, ficar na ponta... Vi Ana Botafogo dançar no Municipal dezenas de vezes e sempre ficava emocionada com a leveza daquela mulher. Sou muito fã e tenho autógrafo dela guardado.
Fiz uma limpa nos armários, dei uma primeira olhada e em outras coisas não consegui mexer. É lembrança demais para tempo de menos. Quando voltar, tem mais coisa pra mexer e, com certeza, mais lembranças para encontrar.
Mas estou pronta!
Podem vir!
Beijos,
Lela,
Leia também: Maria de Lourdes
Mãe
Casa
Muito papel, quinquilharia, terços partidos, santinhos quebrados, apostilas... Meias, pijamas, as tais coisinhas miúdas.
Lembranças dos pais, avós, dos filhos e dos netos. Quadrinhos com "Eu te amo, vovó" são vários. Cartões, cartas de despedida, fotos. Lenços. Lembranças de uma vida inteira ocupando uma casa de várias vidas.
Mas chegou a hora de mudar. Novos ares, novos donos, novas manias vão comandar essa casa e para isso vai ser necessária uma adaptação de todos. Vamos empregar o termo "Sob Nova Direção" bastante e aos poucos todos vão se acostumar com a ideia, inclusive meu irmão e eu.
Fui guiada por uns sentimentos: desocupar, arejar, desencalhar, rearrumar. Redecorar tudo que for possível no momento e de uma coisa tenho absoluta certeza, passado uns dias de trabalho: falta cor. É pastel. Acho que eu queria uma casa mexicana, de cores terrosas, fortes, daquelas que acordam todo mundo, mas por enquanto não vai ser possível. Então daqui há algum tempo vou apostar nos sofás reestofados e reformados e em mantas. Vai dar certo. Preciso só de tempo (e de dinheiro, evidente).
Mas nesses dias descobri não só coisas que foram da minha mãe. Um dos armários está lotado de gibis que são do Jayminho: X-Men, Demolidor, Visão, Homem Aranha... A criatura vai fazer um dinheirinho no Mercado Livre.
Achei meu caderno de redação, provas da época do colégio, minhas Fofoletes e as minhas sapatilhas. Minhas sapatilhas de ballet estavam guardadas há quase 30 anos com a mamãe. Estão um pouco desbotadas, mas a ponta está perfeita. Não resisti e calcei. Ana ficou eufórica; tenho a sensação que ela achava que não era verdade que eu pudesse ter um dia calçado sapatilhas. Subi na ponta e doeu. De verdade! Meu pé não aceitou aquele exercício inesperado, normal. Deu uma saudadinha gostosa.
Se o ballet não tivesse me ensinado nada de bom, o que definitivamente não é verdade, deixou lições valiosas, como andar ereta, sentar ereta e o que quer que aconteça, ficar ereta. A encolher a barriga e encaixar o bumbum...Ensinou a persistencia, a tentar muitas vezes, muitas e muitas.
O balé foi por anos, o que eu gostaria de ter feito na vida: dançar, voar, ficar na ponta... Vi Ana Botafogo dançar no Municipal dezenas de vezes e sempre ficava emocionada com a leveza daquela mulher. Sou muito fã e tenho autógrafo dela guardado.
Fiz uma limpa nos armários, dei uma primeira olhada e em outras coisas não consegui mexer. É lembrança demais para tempo de menos. Quando voltar, tem mais coisa pra mexer e, com certeza, mais lembranças para encontrar.
Mas estou pronta!
Podem vir!
Beijos,
Lela,
Leia também: Maria de Lourdes
Mãe
Casa