Posso voltar a ser feliz, eu sei que posso.
Não posso fazer um novo começo, mas posso interferir no meio e mudar o fim.
Com remedinho ou sem, porque não tenho preconceito.
Depressão é doença e deve ser tratada como tal. E não é vergonha nenhuma.
Na verdade ela já dava sinais de que iria me pegar, mas eu ignorei. Como ignorei tantas coisas ao longo da vida. Ignorei não, fiz que não vi por fora e chorei por dentro; como só os muito fortes ou os muitos loucos sabem fazer.
Nunca fui de mostrar minhas fragilidades. Sempre fui a que se virou, que deu jeito, que teve ideias, que tomou a frente, que resolveu. Fiz tanto isso que realmente achei que pudesse fazer isso para todo o sempre. Quando não dava conta, fingia que dava; e fingi tão bem que passei a vida ou dando conta ou fingindo. Que sorte a minha...
Dei conta de estudar, de ir buscar meu irmão na escola, de ser a mais velha, de usar botas ortopédicas, de fazer ballet, de não ter aptidão com qualquer tipo de esporte, de não chorar na frente dos outros, de refazer meus sonhos uma centena de vezes... Dei conta de ter amizades rompidas, namoros desfeitos, poucos amigos, engordar, emagrecer... De ter peito grande, de ser a última da fila, a última e ser escolhida pro queimado. E o meu pensamento sempre foi: Não ligo, não queria mesmo!
Dei conta de mudar de cidade, de não ter emprego, de arrumar emprego, de ter dois filhos e entre eles um aborto por doença. Dei conta de amamentar, de trabalhar. Dei e dou conta de criar meus filhos junto com meu marido.
Dei conta de ver meu irmão ir embora de casa tão cedo na vida, de enterrar meu pai.
Mas muitas vezes eu liguei. Muitas vezes eu teria gostado de uma segunda olhada e uma simples pergunta: Tá tudo bem? Ouvi muito pouco essa pergunta e com isso não me dei o direito de pedir ajuda. E nunca soube como pedir, não sei como fazer, só sei andar.
Tenho andado feito um zumbi em 2015. Minha trombose, minha demissão, a morte da Dóris, a doença e a morte da mamãe. Cansei de dar conta! Não consegui mais... Não queria mais... Quem quiser que fosse lá fazer minhas coisas, porque não ia mais fazer nada.
A primeira coisa que disse ao médico ao ser perguntada o que eu tinha ido fazer lá foi: Minha mãe morreu e eu não sei o que fazer... Isso depois de chorar baldes na frente dele.
Realmente não sabia o que fazer, como tem muitos dias em que ainda não sei. Mas estava insuportável: uma dor rasgando por dentro, me queimando. Não conseguia mais dar bom dia, nem trabalhar, nem conversar. Só conseguia pensar que não tinha mais mãe e que era prá nunca mais.
Nunca mais vê-la, abraçá-la, cheirá-la, dizer que ela era a minha Adelaidinha. Meu telefone ficou mudo. Disso eu não dei conta. Eram noites inteiras sem dormir pensando no que fazer, por onde (re)começar e até perceber que não estava dando conta foram quase 2 meses inteiros.
O óbvio diagnóstico foi depressão. Afastamento do trabalho. Remédio.Terapia. Descanso. E assim fiz.
E assim venho fazendo. Remedinho (dane-se!!), longas conversas, longos silêncios , apoios esperados e inesperados (Mets, vocês são bárbaros!!!), abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.
Já desentupi um pouco e comecei a falar e isso talvez seja um bom começo. Ainda não sei pedir nada, mas posso aprender. Afinal, vai ser só mais uma coisa que vou aprender a dar conta: de pedir ajuda.
Leia também:Mãe
Uma ano
Passa Tempo
Irmãos
Não posso fazer um novo começo, mas posso interferir no meio e mudar o fim.
Com remedinho ou sem, porque não tenho preconceito.
Depressão é doença e deve ser tratada como tal. E não é vergonha nenhuma.
Na verdade ela já dava sinais de que iria me pegar, mas eu ignorei. Como ignorei tantas coisas ao longo da vida. Ignorei não, fiz que não vi por fora e chorei por dentro; como só os muito fortes ou os muitos loucos sabem fazer.
Nunca fui de mostrar minhas fragilidades. Sempre fui a que se virou, que deu jeito, que teve ideias, que tomou a frente, que resolveu. Fiz tanto isso que realmente achei que pudesse fazer isso para todo o sempre. Quando não dava conta, fingia que dava; e fingi tão bem que passei a vida ou dando conta ou fingindo. Que sorte a minha...
Dei conta de estudar, de ir buscar meu irmão na escola, de ser a mais velha, de usar botas ortopédicas, de fazer ballet, de não ter aptidão com qualquer tipo de esporte, de não chorar na frente dos outros, de refazer meus sonhos uma centena de vezes... Dei conta de ter amizades rompidas, namoros desfeitos, poucos amigos, engordar, emagrecer... De ter peito grande, de ser a última da fila, a última e ser escolhida pro queimado. E o meu pensamento sempre foi: Não ligo, não queria mesmo!
Dei conta de mudar de cidade, de não ter emprego, de arrumar emprego, de ter dois filhos e entre eles um aborto por doença. Dei conta de amamentar, de trabalhar. Dei e dou conta de criar meus filhos junto com meu marido.
Dei conta de ver meu irmão ir embora de casa tão cedo na vida, de enterrar meu pai.
Mas muitas vezes eu liguei. Muitas vezes eu teria gostado de uma segunda olhada e uma simples pergunta: Tá tudo bem? Ouvi muito pouco essa pergunta e com isso não me dei o direito de pedir ajuda. E nunca soube como pedir, não sei como fazer, só sei andar.
Tenho andado feito um zumbi em 2015. Minha trombose, minha demissão, a morte da Dóris, a doença e a morte da mamãe. Cansei de dar conta! Não consegui mais... Não queria mais... Quem quiser que fosse lá fazer minhas coisas, porque não ia mais fazer nada.
A primeira coisa que disse ao médico ao ser perguntada o que eu tinha ido fazer lá foi: Minha mãe morreu e eu não sei o que fazer... Isso depois de chorar baldes na frente dele.
Realmente não sabia o que fazer, como tem muitos dias em que ainda não sei. Mas estava insuportável: uma dor rasgando por dentro, me queimando. Não conseguia mais dar bom dia, nem trabalhar, nem conversar. Só conseguia pensar que não tinha mais mãe e que era prá nunca mais.
Nunca mais vê-la, abraçá-la, cheirá-la, dizer que ela era a minha Adelaidinha. Meu telefone ficou mudo. Disso eu não dei conta. Eram noites inteiras sem dormir pensando no que fazer, por onde (re)começar e até perceber que não estava dando conta foram quase 2 meses inteiros.
O óbvio diagnóstico foi depressão. Afastamento do trabalho. Remédio.Terapia. Descanso. E assim fiz.
E assim venho fazendo. Remedinho (dane-se!!), longas conversas, longos silêncios , apoios esperados e inesperados (Mets, vocês são bárbaros!!!), abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.
Já desentupi um pouco e comecei a falar e isso talvez seja um bom começo. Ainda não sei pedir nada, mas posso aprender. Afinal, vai ser só mais uma coisa que vou aprender a dar conta: de pedir ajuda.
Uma ano
Passa Tempo
Irmãos