sábado, 26 de dezembro de 2015

Desapegar não é esquecer...

Revi agora um final de filme que me fez chorar... Toy Story 3.
Bobagem pra muitos, eu sei...
Andy se despede de seus "amigos" da infância: Buzz, Jessie, Sr e Sra Cabeça de Batata, aquele dinossauro com cara de doido (Miguel fazendo revisão me contou que o nome do bicho é Rex) e, finalmente do Woody. Nem me lembro como chegaram a essa casa e a essa menina boazinha, mas depois de tudo que passaram naquele jardim de infância, com certeza aquilo é o Céu dos Brinquedos. Mas não é essa a questão.
A questão é: Andy abriu mão dos seus amigos e seguiu para a faculdade; fez seu rito de passagem e desapegou. Não sem dor, como fica claríssimo, mas fez. Como dizem os americanos: moved on.
Seguir a vida é difícil. Andar, sair do lugar, da zona de conforto, arriscar...
A vida nos chama tantas vezes, todos os dias e resta a nós irmos para ela ou não. Não dá para ficar com um pé em cada barco. No caso do Andy, ir para a faculdade com o Woody dentro da mochila não seria possível. E ele entendeu.
Mas penso que desapego não deve ser esquecimento. Desapego deve ser abrir mão e como diz uma das muitas definições: perder a dependencia. Andy jamais iria se esquecer dos parceiros de tantas aventuras, principalmente do cowboy.


Vendo esse final comecei a pensar nos meus próprios brinquedos e nos meus desapegos. Quando criança tinha bonecas, panelinhas, paninhos, bercinhos, que foram sumindo ao longo dos anos sem que me desse conta dos desaparecimentos. Mas tinham coisas que eram complicadas: o vestido que virou bata e depois blusa; o prendedor de cabelo azul de coraçõezinhos que tenho guardado até hoje (não desapeguei); a Pepa; e principalmente o travesseirinho.
 A Pepa foi a última boneca que ganhei dos meus pais, lançada na época de uma novela. Mamãe dizia que ela era feia, acho que de implicância...Há muitos anos atrás foi reformada e colocada na minha cama com uma cartinha. Mas ficou na casa da mamãe quando mudei e ainda deve estar por lá.
Do travesseirinho só me livrei muito tempo depois de casar . Que foi?? Ele cobria minha cabeça, me protegia de pernilongos e de monstros noturnos... Tinha muito medo de dormir, pesadelos, TOC... Me julguem!! Não sei como desapeguei dele, mas o fato é que não uso travesseirinhos  há mais tempo do que consigo me lembrar.
Não tive grandes traumas com brinquedos, desapeguei tranquilamente naquela época. Não lembro de um grande drama ao doar os meus e nem quando percebi que eles não estavam mais por lá. Sei que ainda tenho umas bonecas guardadas em Estrela Dalva, mas foi a mamãe quem guardou; nem sei quais são. Meus problemas são os artigos de papelaria: papéis de carta, adesivos, lápis comprados com o objetivo de não serem usados JAMAIS. Assumo.
Tenho uma certa nostalgia, principalmente das panelinhas (olha que ironia!). Gostava de brincar de panelinha, fogãozinho, talherzinho, de dar banho nas bonecas...
Acompanho de perto a sofrência dos meus filhos a cada "sessão desapego" que promovo aqui. Cada vez que aviso que está chegando a hora de desapegar, Miguel muda de cor. A mochila de animais, que ao longo do tempo virou uma caixa enorme, hoje é uma caixa média, com animais e dinossauros. O menino mexe, remexe, separa daqui e dali e uma hora desiste; diz que não consegue. Cada um tem seu tempo e eu respeito. Embora ele não brinque mais, eles estão ali, como uma muletinha talvez; para uma olhadinha fortuita de vez em quando; para saber que os companheiros ainda são companheiros; e que uma manada de elefantes poderá fazer uma grande diferença contra os inimigos.
O dia de desapegar de vez vai chegar, eu sei. E nesse dia ele terá atravessado para sempre uma ponte para a vida adulta e não terá mais volta. Como o Andy.
Em julho assisti outro filme que me fez chorar: Divertida Mente. Em um dado momento do filme, o amigo imaginário da menina Rilley, um simpático bichinho com corpo de algodão doce cor de rosa, metade elefante, metade gato e alguma parte golfinho, que chora balas e ainda tem o nome de Bing Bong se deixa ficar num limbo, onde todas as memórias serão esquecidas para sempre. Faz isso para salvar todas as outras memórias e sentimentos de sua amiga, sabendo que não será mais lembrado. Chorei por coisas realmente esquecidas e chorei imaginando coisas que meus filhos inevitavelmente irão esquecer, terão que esquecer para seguir adiante. Crianças não conseguem entender isso ainda, e passam pela parte do Bing Bong ficando no limbo sem maiores problemas; mas pra quem já cresceu, olhar prá trás e saber que não pode voltar, definitivamente é de chorar.


Por enquanto não quero ver o Bing Bong desaparecer de novo. Uma vez já foi o bastante.
Estou me preparando para o desapego do Miguel. Para ajudar no que ele precisar, para sair de cena e deixar que ele vá fazer a vida dele do jeito que ele quiser; prá desapegar de nós. Contando que ele seja feliz.

Beijos,
Lela,

Leia também: Papelaria
                       Miguel






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